quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Cidadania Negada

                                                                                                 Verônica Lima e Silva.

        Euclides da Cunha em 1897 foi enviado como correspondente do Jornal O Estado de São Paulo, para cobrir a Guerra de Canudos (1896-1897), no interior do estado da Bahia. Partiu com  uma ideia de que o governo lutava ali contra revoltosos Monarquistas que não aceitavam a recém implantada  República.Uma “Vendéia brasileira”1,pensava a opinião pública à época.Mas o jornalista Euclides,ao chegar no pequeno arraial Canudos,  percebe que o exército brasileiro lutava contra míseros  homens,mudando assim todo o seu olhar para aquele fato.Passando então a mostrar através de seus escritos, o massacre daquela unida e mal armada comunidade pelo aparelhado exército brasileiro.Uma luta desumana e desigual que custou a vida de milhares  de homens,adultos, velhos mulheres e crianças do pequeno vilarejo nordestino.
             A recente declaração de um vereador do Município de Piraí/RJ,me fez lembrar desse episódio fatídico da história brasileira.Os miseráveis de canudos, foram banidos da comunidade de Monte Santo onde viviam tranquilamente sob a liderança do religioso Antonio Conselheiro.Foram dizimados por serem pobres e viverem à margem da sociedade.Assim tornaram-se inimigos confessos da nação e frutos de intrigas entre Monarquistas e Republicanos jacobinos que disputavam o poder Central na capital da República,sendo exterminados sem dó e sem piedade.Tal qual quer o vereador de Piraí fazer com os mendigos de sua pequena  cidade.  
            O relato sócio-histórico da Guerra de Canudos publicado no livro :”Os Sertões”, de Euclides,pode até não ter nenhuma relação com o ocorrido em Piraí,mas suscita em nós uma profunda reflexão: Nem todas as pessoas que perambulam pelas ruas das cidades brasileiras estão ali porque querem.São mendigos porque vivem à margem de uma sociedade cada dia mais egoísta e cruel. São mendigos porque a ganância de uns roubam-lhe o direito à cidadania. Porque nunca tiveram a oportunidade de ter um lar digno, um emprego decente, uma escola de qualidade, uma mão amiga, um apoio. Nunca viram uma luz no fim do túnel para seus problemas.Só trevas e escuridão.
            Nas últimas eleições foram eleitos para os cargos legislativos de todo o país, cerca de 70 mil vereadores, visto que o Tribunal Superior Eleitoral TRE,aumentou para nove o número de vereadores nos municípios com até 15 mil habitantes.Mais propostas de leis,mais políticas públicas que assegurem direitos e qualidade de vida aos cidadãos, é o que se espera desses representantes do povo nos pequenos municípios brasileiros.
           No entanto muitos vereadores aproveitam seus mandatos para elegerem parentes, cônjuges e filhos como seus assessores parlamentar,usando a máquina pública em beneficio próprio. O Nepotismo praticado por esses senhores sim é vergonhoso e imoral. Essa prática corriqueira deveria  ser banida e excluída das Câmaras Municipais, e não os mendigos virarem ração como disse o vereador de Piraí ao subir na plenária para falar a seus pares.
            Vale lembrar que alguns vereadores, uma minoria se mantém crítico e cheios de boas intenções, mas nem sempre seus projetos a favor da coletividade são aprovados nas sessões legislativas municipais. Exatamente por fazerem parte de uma minoria, não teem representatividade, ficando impossibilitados de mudar qualquer decisão que vise o interesse particular de um ou de alguns membros da casa legislativa, impedindo assim que corruptos usem o poder público local para se beneficiarem.
            Se em Piraí tem muitas pessoas perambulando pelas ruas,é provavelmente, porque esse e outros vereadores da casa legislam em beneficio próprio.Suas ações irresponsáveis e individualistas sim geram desigualdades, pobreza e exclusão social,devido à omissão de suas funções, dentre elas a de propor projetos de leis que atendam o interesse público de sua cidade e de seus munícipes.
              Portanto, continuamos até hoje 25 anos depois da Constituição Cidadã produzindo mendigos e miseráveis como no Brasil Republicano do século XIX. E ainda assim queremos ter vergonha deles?Torná-los ração para peixe? Por não terem endereço fixo, por serem pobres, sujos e esfarrapados, não podem  exercerem sua cidadania?Como se votar nesse país fizesse alguma diferença, trouxesse alguma mudança real para a maioria do povo brasileiro. Continuamos tratando, negando e produzindo até hoje as mesmas mazelas sociais do passado.   
1..Vendéia.Quando a Revolução francesa chegou nos campos,artesãos e camponeses com o apoio da aristocracia local em 1793,lutaram contra os revolucionários,defendo o sistema monárquico.A opinião publica brasileira em 1896 passou a dizer que Canudos era uma “Vendéia brasileira” por defender a permanência da Monarquia.Estudos recentes apontam terem sido os canudenses frutos de intrigas políticas entre Monarquista e Republicanos.Diante da resistência da comunidade o presidente civil Prudente de Moraes mandou destruir o Conselheiro e todos os seus comandados.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Diário de Viagem





VIAGEM AO JURUÁ DE MINHA INFÂNCIA
                                                                                                     
                              Querido diário: O Juruá de minha infância já não é mais o mesmo. No trecho entre Cruzeiro do Sul e a cidade de Ipixuna, o rio agoniza,pede socorro. São muitos os bancos de areia e as árvores caídas ao longo de seu leito, tornando-se um perigo constante até mesmo para as pequenas embarcações que ousam viajar nesse período de vazante do rio. Provavelmente dentro de 10 a 20 anos no máximo se nenhuma medida ambiental for tomada com mais rigor, à navegação no Juruá será impossível nos meses de junho a outubro. O rio a cada ano fica mais assoreado devido não só a poluição e ao desmatamento de suas margens e igarapés, mas também pela a ação natural da cheia do rio que remove terra e árvores de seu barranco e as carrega para o fundo do rio. As muitas embarcações que navegam rio acima, rio abaixo, não se preocupam se quer em colocar uma plaquinha em seu interior solicitando aos viajantes que: NÃO JOGUEM LIXO NO RIO ,ou lixeiras.Uma medida que deveria ser tomada em conjunto pelos representantes das cidades de Cruzeiro do Sul,Guajará e Ipixuna, seria a retirada das árvores maiores que ficam expostas nos bancos de areia que se formam na vazante no meio do rio,assim como parte dessa areia.Medida cautelar,que evitaria muitos contratempos,visto ser comum na região as embarcações terem seus cascos perfurados por esses troncos no momento em que o rio começa a encher.
                    Viajamos da cidade de Cruzeiro do Sul/AC até o antigo seringal Pernambuco, no mês de setembro de 2013. Nesse trecho do rio, poucos foram os botos cor de Rosa e tucuxi que vimos subindo a superfície para respirar. Muitos desses golfinhos de água doce que habitam o Juruá, hoje nadam sozinhos, diferente de outrora onde eles nadavam sempre em dupla ou  em quádrupla. Também não observei nenhum rastro de tartarugas, ou qualquer outro cágado da região nas areias das praias por onde passei, para realizarem ali sua desova.A pesca na piracema é uma prática comum entre os ribeirinhos e o descarte dos peixes menores também não é feito pelo pescador.Serão poucos os cardumes de pacus,sardinhas,branquinhas,piaus e outras espécies de peixes que conseguirão chegar até a cabeceira do rio para ali realizarem a desova.            
                 Tracajás tomando banho de sol nos galhos secos das árvores caídas ao longo dos barrancos do rio foram poucos, e apenas um jacaré foi visto tomando banho de sol à beira rio. Garças e muitos outros pássaros da região como o corta água, (pequeno pássaro que voa rente ao rio e no momento oportuno mergulha o bico para pescar um peixe), já não se ver em grandes revoadas. Óleo de copaíba e Andiroba também não encontramos mais. Peixe-boi então beira a extinção. Na outra margem do rio, em frente à cidade de Ipixuna os cacaueiros eram abundantes, hoje segundo uma amiga já não existem mais.A Hevea brasiliensis  sustentação econômica até os anos 1960 dos seringais do Município,hoje são derrubadas pelos ribeirinhos como se fossem uma árvore qualquer,já que não tem mais nenhum valor comercial por essas bandas.Não encontrei nenhuma semente de seringueira baixando o rio, e poucos foram os chumaços de algodão que vi descendo o mesmo,como era de costume.Sementes de olho de boi,que recolhíamos para brincar de pedrinha,também não vi nenhuma.Quem sabe quando o rio estiver cheio o quadro seja diferente.Em compensação observei, fardos e mais fardos de sementes de murmuru expostas ao longo das praias para serem vendidas à Natura Ekos,segundo me informou um viajante da lancha.   
                   Não sabe talvez o ribeirinho que tira da floresta esse recurso imediato para sustento de sua família,que  em pouco tempo já não será mais possível atender a demanda de produção exigida pela Natura, e esta, se  deslocará para outros rios da região Amazônica, dando continuidade à exploração dos recursos naturais até a sua total extinção. Deixando, portanto inúmeras famílias sem renda e pior, sem se quer um coco de murmuru para o próprio consumo. Há tempos a seringueira sofreu o mesmo processo exploratório. Não se preocuparam os gananciosos seringalistas em promover o plantio da espécie acreditando provavelmente ser esta uma fonte inesgotável, mas o seu ciclo teve um fim. Hoje apenas no Acre ainda se produz látex para a confecção de preservativos.A retirada dos bens da floresta sem reposição e a derrubada de árvores para o plantio de sua roça,muitas vezes é a única opção de trabalho e renda que esses ribeirinhos tem para sobreviverem isolados na floresta.
              Chegando a Ipixuna assustei-me quando vi o Igarapé Turrufão. Nele costumávamos tomar banho e pescar em qualquer época do ano, mas agora se encontra completamente seco. O desmatamento de suas margens seja para a criação de bovinos,seja para a construção de casas residenciais assim como o lixo doméstico jogado ali, contribuíram para acelerar o processo de assoreamento de tão importante curso d’água. Muitas fontes de água da cidade já secaram e os moradores já não contam mais com os balneários naturais dos igarapés mais próximos à ela nessa época do ano.Tendo muitas vezes que se deslocarem para as comunidades vizinhas ou usufruírem desse lazer nos banhos de açudes artificiais, localizados nos sítios particulares.
                          Quanto à cidade de Ipixuna confesso que fiquei surpresa e ao mesmo tempo decepcionada. Surpresa pelo crescimento da cidade que transpôs e muito aquele pequeno perímetro urbano que conheci há quase 29 anos atrás. Decepcionada pela destruição do Patrimônio Histórico. Senti falta da Usina de Arroz e de seu beco. Hoje em seu lugar encontra-se um Hotel e em baixo deste a agência do Bradesco. O beco que ficava ao lado da usina ainda está lá, um pouco mais estreito  e sujo,já não serve mais de passagem à pedestres como antigamente. O engenho de açúcar já não existe mais e seu antigo terreno deu lugar a várias residências. Suas engenhocas e sua história foram desprezados e abandonados por aqueles que deveriam cuidar e zelar pelo bem público. Um descaso e uma afronta ao Patrimônio, a história e a memória da cidade e de seus antigos moradores.

                     Segundo o RADAMBRASIL nos anos 1970 o Município era autossuficiente na produção de açúcar mascavo, farinha e arroz, vendendo sua produção para algumas cidades vizinhas do Vale do Juruá. Hoje seus moradores chegam a pagar na saca de farinha o preço exorbitante de R$ 180,00 a R$ 200,00 reais, quando encontram farinha para comprar. A falta de investimento na agricultura familiar  levou muitos ribeirinhos a abandonarem suas comunidades e migrarem para a cidade em busca de melhor qualidade de vida.Investir no pequeno agricultor,dar suporte técnico e fazer chegar na cidade seja via estradas de rodagem ou via fluvial sua produção, oportunizando sua venda em feiras livres será a melhor saída para o crescimento econômico do município,bem como para a permanência de maneira digna de muitas famílias em suas comunidades de origem.
                        A Biblioteca Pública Municipal, também já não existe mais. Em seu lugar encontra-se a Casa de saúde Indígena. Lembro com ternura desse espaço onde costumava jogar varetinha,baralho e outros jogos lúdicos com minhas amigas,assim como dos muitos livros da Literatura nacional e estrangeira que peguei emprestado para ler em casa.Um deles “E o Vento Levou” com suas mais de 800 páginas degustei em poucos dias, emocionada não só com a linda e impossível história de amor entre Scarlett e Ashley,mas também pelo conteúdo histórico da Guerra Civil Americana entre os Estados Sul e os Estados do Norte.Ipixuna é a única cidade que visitei nessa minha andança pelo norte do país que não conta mais com uma Biblioteca Pública Municipal.Uma pena! Onde foi parar seus muitos livros, suas fichas e seus registros?Será que pode um Município ficar sem Biblioteca Municipal?O cidadão Ipixunense não tem mais o direito de usufruir desse espaço cultural?
                        Outro bem público que senti falta foi à escola Estadual Morcy Barroso, que chamávamos de Pinico Sem Tampa. Muitos cidadãos Ipixunenses da minha idade passaram por seus bancos escolares, e tiveram a oportunidade de serem alfabetizados pelas professoras Iraci de Lima e Dona Tomázia. Pois bem amigos!Recordar esse passado não será mais possível. O antigo Pinico Sem Tampa também ruiu no tempo e seu terreno hoje estar sendo aterrado para instalação de um futuro Posto de Gasolina que segundo fui informada. Porque a obra não é embargada?Não seria mais útil  construir ali um Museu Municipal,um espaço de história, de memória e de identidade do seu povo?
                     Quero registrar também o abandono particularmente do antigo prédio do Mercado Municipal e da Coletoria. O antigo prédio da Coletoria construído em 1957, hoje se encontra em total abandono, abrigando em seu interior uma família, que mora ali não sei se com o consentimento do poder local, ou não. O antigo Mercado Municipal  hoje Secretaria de Cultura também mostra sinais de abandono e falta de zelo. Uma total falta de respeito com os  primeiros prédios construídos na cidade.  A Secretaria de Cultura Municipal tem o dever de zelar e de preservar os prédios públicos,assim como a população civil,sob pena de não deixar morrer a história e a memória local. 
                               Passei alguns dias na comunidade Pernambuco, antigo remanso,hoje uma vila bastante povoada.Possui escola rural,posto de saúde,templos religiosos,associação de moradores,dois engenhos de açúcar para fabricação de gramichó,duas caixas d'água que nunca jorraram água nas torneiras das casas.Tendo os moradores que descerem até o rio ou irem ao igarapé ou ainda a suas cacimbas domésticas para realizarem suas atividades diária e sua higiene pessoal.O calçamento das suas longas ruas se deu pela metade,apenas o meio fio foi feito por onde os transeuntes passam.Sempre fico me perguntando quando vejo essas obras incompletas:Onde foi parar os recursos destinados a elas?Visto que quando se olha o site do Portal da Transparência Municipal lá estão elas como concluídas?Enquanto as respostas as minhas indagações não vem sigo meus escrito para dizer que fiquei muito feliz em encontrar ali no porto de Pernambuco a família do indígena da etnia culina: seu Agostinho Culina compadre de meus pais, sua esposa, dona Tereza,sua filha Rita,netos e sobrinhos.Todos estavam indo para a cidade receber suas aposentadorias como fazem todo mês.Conversamos tiramos fotos e marcamos de nos reencontrar em Ipixuna o que não foi mais possível, pois quando lá cheguei os mesmos já tinham descido o rio para sua aldeia, localizada no Igarapé Grande.Ao retornar à cidade fiquei chocada com a cena que presenciei:Índios da etnia Culina moradores do Igarapé Grande e do Piau acampados em barracas de lona na frente da cidade. Lastimável e inconcebível tamanho descaso público com os indígenas ipixunenses.                     

                    Tantas outras considerações poderiam ser elencadas aqui sobre o que vi e ouvi da cidade e das pessoas, mas vou finalizar esse diário da Viagem ao Juruá, externando meu apreço e admiração a todos que me acolheram. E dizer que fui muito bem recebida por todos: Parentes, amigos e admiradores de meu pai e de minha mãe. Senti-me em casa novamente, mas não posso deixar de expressar aqui meu pensamento crítico sobre os fatos que relatei acima. São a meu ver críticas construtivas, que espero possam contribuir para um novo olhar sobre o Patrimônio material e imaterial do Município de Ipixuna. Não são informações novas e nem tão poucas desconhecidas da população local, fazem parte do cotidiano das pessoas, mas as fiz nesse espaço por amor a minha terra natal. Mesmo sendo uma filha ausente por circunstância do destino tenho tanto amor e zelo por esta cidade quanto qualquer um de seus filhos que nunca saíram dela.Meu olhar é, eu confesso mais crítico por já ter rodado um pouco por esse Brasil e podido perceber que muitos municípios brasileiros com as mesmas características de Ipixuna estão em situação econômica e cultural melhores.Portanto,acredito que muito ainda se pode fazer por esse Município,para que seus cidadãos possam futuramente chegar em qualquer cidade maior ou menor do Amazonas e do Brasil,inflar o peito e dizer com orgulho que são filhos dessa terra!
Já estou com Saudades de todos!!!!

Verônica Lima

Rio de janeiro,06 de Outubro de 2013.     

Fotos da Viagem ao Juruá    

Setembro/2013.  

Menino tomando banho no rio Juruá em meio a tronco de árvores caídas no leito do rio que já se encontra assoreado.

Tronco de árvore encalhado no banco de areia no rio Juruá.

Banco de área e arvores caída no meio do rio dificultam a navegação na vazante do Juruá


Igarapé Turrufão. Ipixuna/AM.Totalmente seco




Vista da Cidade de Ipixuna/AM.






Comunidade de Pernambuco.Ipixuna/AM.





Agricultor indo para a sua roça.

Lenha para a moenda.








Igarapé.

Engenho de Açúcar,comunidade pernambuco/AM.

Açúcar mascavo na gamela.




A garapa caindo no tacho.






Uma paradinha  praia para tirar a água do joelho.Será que pode?.ksks







Mel de cana-de-açúcar












Menino carregando bagaço de cana.




Melando a cana para puxar o alfenim


Recebendo o apoio do meu primo Ge.






















Alfenim pronto. Hummmm!!!


Aqui observa-se o calçamento pela metade,ou seja apenas o meio fio.

Adicionar legenda

Alunos indo à escola.

Caixas d'água que nunca funcionaram





Tereza Culina,esposa de seu Agostinho.Etnia Culina

Seu Agostinho Culina


Rita Culina


  Viagem de Trem: Minas-Vitória.
Por: Verônica Lima e Silva



         Querido diário.

             No mês de fevereiro de 2012, saíamos da rodoviária  Novo Rio, na cidade do Rio de janeiro em direção a Belo Horizonte para realizar uma viagem de trem.

             Há tempos eu alimento um desejo de andar de trem pelo interior do Brasil. Sonho, eu diria impossível de se realizar, não fosse o abandono e o sucateamento que estas ferrovias sofreram na década de 1960, quando as pessoas  gradativamente foram trocando o velho e seguro trem pelo  rápido e confortável carro.

              A Estrada de Ferro Vitória-Minas,1 que vamos percorrer,é uma das poucas que transporta passageiros no país.Além desta tive a oportunidade de conhecer a Estrada de Ferro Carajás.Pará/Maranhão, quando minha mãe que passava uns dias conosco na cidade de Marabá/PA,em 1990,viajou de trem para visitar uma amiga sua em São Luiz do Maranhão. Mas, diferente do trem mineiro que oferece passagens diariamente, o de Carajás, parte em dias alternados da cidade de Parauapebas/PA, até São Luiz do Maranhão.

           Chegamos a BH em pleno domingo de carnaval antes das cinco horas da manhã e nos dirigimos à ferroviária para comprarmos as passagens até Vitória.Mas quando os portões da estação se abriam às 6 horas da manhã, o guarda foi logo avisando que para aquele dia não haviam mais passagens.

            Tudo bem!Compraríamos as passagens no dia seguinte. Assim aproveitávamos para conhecer a Capital Mineira.     Procuramos um hotel para deixar nossas coisas pegamos um ônibus e fomos caminhar na Lagoa da Pampulha.2

             Eu nunca estivera ali na terra de Juscelino, e poder admirar aquela paisagem toda e caminhar em volta da represa visualizando seus monumentos parques e jardins, além de conhecer a história do lugar ia ser muito agradável.

            Logo que chegamos avistamos uma numerosa família de capivaras à beira da lagoa tirando a sesta tranquilamente depois do almoço. Um vendedor de picolé muito simpático  deu-nos boas dicas sobre a cidade, além de nos proporcionar gostosas gargalhadas com suas piadas de mineiro.

           Caminhamos até a Casa do Baile3, onde uma exposição sobre o ofício de Lambe-Lambe (fotógrafos de jardins) me levou de volta à  infância. Lembrei-me com ternura destes profissionais que  todos os anos durante as festas religiosas  de Nossa Senhora Das Dores e de São Francisco de Assis, nos meses de Setembro e Outubro chegavam a cidade de Ipixuna no Amazonas para tirar fotografias.A família toda reunida se punha em frente a um grande painel pintado,enquanto as crianças eram colocadas em cima de um burrinho de madeira.Aos olhos dos curiosos ali presente o fotógrafo registrava a imagem para a posteridade.   

             Para matar a saudade daquele tempo, tirei uma foto montada no burrinho de madeira da exposição, como se fosse aquele de minha infância. Como eu ia imaginar que depois de tantas tecnologias nas máquinas fotográficas atuais, eu encontraria ali diante de meus olhos uma exposição que resgatasse a minha infância,e me fizesse lembrar de nossas carinhas felizes e ao mesmo tempo surpresas, ao visualizarem nossa imagem revelada no  fundo do monóculo?(Pequeno objeto de plástico com uma lente que permiti visualizar com um olho só a imagem refletida no fundo em miniatura).

         Em História e Memória, 1924 Jacques Le Goff 4nos diz que “a fotografia (...) revoluciona a memória: multiplica-a e democratiza-se, dá lhe uma precisão e uma verdade visuais nunca antes atingidas, permitindo assim guardar a memória do tempo e da evolução cronológica”.Realmente a fotografia é um documento importante para o resgate da memória.Ao olhar a exposição dos retratistas Lambe-Lambe mineiros e suas fotografias sociais expostas na Casa do Baile,pude voltar no tempo e lembrar com carinho de meus pais,irmãos,amigos e do arraial religioso na pequena cidade em que nasci.

         O dia estava quente e ensolarado, mas ali embaixo daquelas frondosas árvores o clima era ameno e uma brisa suave se fazia sentir a todo instante. Lá longe na outra margem da lagoa avistamos uma Igrejinha, caminhamos até ela, pagamos R$ 1,00 e entramos para conhecer o seu interior.   

          Um grupo de pessoas admiravam a pequena capela,  enquanto as palavras do guia iam narrando a sua história. Ficamos sabendo que esta Igreja de São Francisco de Assis faz parte assim como o Museu de Arte, a Casa do Baile e o Iate Tênis Clube, do Conjunto Arquitetônico da Pampulha encomendado por Juscelino Kubitschek ao arquiteto Oscar Niemeyer, como parte do projeto de modernização da cidade, quando Juscelino foi prefeito de Belo Horizonte entre 1940 a 1950, e ainda que a igreja encontra-se tombada desde 1984.     

          Diferente de todas as igrejas que eu já visitei esta capela de São Francisco da Pampulha, não tem cruz no altar. Em seu lugar encontra-se um grande painel pintado por Cândido Portinari. Nele observa-se que o personagem principal retratado pelo artista não é Jesus Cristo nem sua mãe e nem seus discípulos e sim, São Francisco de Assis, a religiosa Clara e seus seguidores famintos, leprosos e miseráveis.

            Um escândalo para a época que levou o arcebispo Dom Antonio dos Santos Cabral, se recusar a consagrar a igreja assim como proibir o culto por 14 anos na capela,informa o guia. Outro dado interessante é que o mesmo artista nos 14 painéis da Via Sacra usou as mesmas representações sociais.

           Depois da visita à igrejinha fomos ao parque de diversões localizado atrás desta. Andamos em diversos brinquedos e no final da tarde voltamos ao hotel. No dia seguinte fomos os primeiros a chegar à estação. Aos poucos mais e mais pessoas iam se juntando a nós e às seis horas da manhã quando a bilheteria se abriu já era grande o número de pessoas que assim como nós também iam fazer a mesma viagem. Compramos nossas passagens para a classe executiva e ficamos no salão esperando à hora do embarque.Durante a viagem percebemos que a classe econômica para o turista é melhor.Diferente da classe executiva esta tem as janelas aberta por não ter ar condicionado, o que permite uma visão mais ampla do percurso,tanto do lado direito quanto do lado esquerdo.Ar condicionado não se faz necessário, o clima mineiro é muito ameno.

           Não somos mineiros e por isso quase perdemos o trem. Por este motivo tivemos que embarcar na classe econômica e por esta chegar à classe executiva. Passamos pela cozinha de onde exalava um cheiro gostoso de café pelo carro-restaurante e finalmente chegamos ao vagão E 4, onde as poltronas 23 e 24 nos esperavam para a longa viagem. 

          Pontualmente as 07h30min o maquinista dar o apito da partida, e por entre as matas o trem segue seu caminho deslizando lentamente sobre os trilhos. O trem  mergulha por túneis,passa em baixo de pontes em cima de rios  e córregos,atravessa pequenos lugarejos, plantações e  moradias simples encravadas nos vales e montanhas do meio rural mineiro.Tudo isso observado pela janela enquanto escrevo.

         Ao longo do percurso o Rio Doce serpenteia a estrada de ferro, hora a direta, hora à esquerda. Com suas barrentas águas este rio é essencial para a vida local, pois nele se vê ao fim da tarde, homens, mulheres crianças e animais, buscando o alimento diário.Ao longo do percurso o trem faz rápidas paradas para embarque e desembarque de passageiros ali mesmo na beira da ferrovia,visto que na maioria das estações não existem plataformas.

       O serviço de bordo é excelente. Um garçom passa com um carrinho, vendendo refrigerantes, sucos,  pão,biscoitos café,com exceção de bebidas alcoólicas.Momento em que o mesmo  passageiro à  passageiro vai informando o cardápio do dia e fazendo a reserva para o almoço.Que pode ser servido tanto na própria poltrona do passageiro,quanto no carro-restaurante. Pedimos nossa refeição para ser saboreada ali mesmo na poltrona.

       Uma atitude aparentemente  simples me chamou a atenção. Foram-nos entregues por ocasião do lanche da manhã três sacolas plásticas de cores diferentes. O maquinista informava que as mesmas eram para colocarmos o lixo. Na sacola azul deveríamos colocar papel, na cinza o lixo não reciclável e na vermelha os lixos de plástico, tais medidas orientava o funcionário fazem parte de nossa política de preservação do meio ambiente que  visam não só a reciclagem do material recolhido como também proporcionar maior  segurança na ferrovia.Informações como esta de conscientização para preservação do meio ambiente são sempre bem vindas.

            Olho as pessoas a conversar despreocupadas às portas de suas casas a beira da ferrovia e lembro-me de Geraldo Viramundo, personagem de Fernando Sabino 5, que apostou com seus amigos que fazia o trem parar na pequena Rio Acima. E fez mesmo!Deitado nos trilhos, Viramundo pediu e implorou a Deus que o trem parasse. O maquinista desesperado apitou uma, duas, três e sei lá quantas vezes mais e o menino não saiu dos trilhos, só restando ao ferroviário fazer o trem parar a qualquer custo. Viramundo, quando percebeu que o trem parou saiu gritado orgulhoso para seus companheiros. Eu fiz o trem parar!Eu fiz o trem parar!

          Prossigo meus escritos e registro nas páginas da caderneta o vai e vem dos trens que passam por nós em sentido contrário. Trens cargueiros, com seus infindáveis vagões abarrotados de produtos. São os minérios mineiros que seguem rumo a Europa, ou a siderúrgica de volta Redonda no Rio de Janeiro.

       Ao longe nas montanhas as profundas voçorocas provocadas pela derrubada da mata nativa deixam a mostra o barro vermelho da terra, a contrastar com o verde das plantações nas áreas próximas ao Rio Doce. Mas este não é o único contraste que observo na paisagem mineira. Antigos e abandonados casarios em estilo colonial, lembram o apogeu das minas gerais oitocentista, enquanto pequenas e simples moradias construídas bem próximas a estes, nos remetem a pobreza atual em que vivem muitos camponeses brasileiros.

         Já era noite quando chegamos a Vitória/ES.Pegamos um ônibus para a Rodoviária em busca de um hotel para pernoitar.A final de contas estávamos exaustos depois de quase 13 horas de viagem.Precisávamos de um bom banho e uma cama aconchegante para dormir,pois no dia seguinte pretendíamos conhecer Guarapari.Não sem antes conhecer as lindas praias do litoral capixaba.Mas esta é outra história.

Fim....


1.A Estrada de Ferro Vitória-Minas(ES-MG).É usada para escoar o minério de ferro,aço,carvão e diversas cargas de Minas para o exterior.Juntamente com a Estrada de Ferro Carajás(Pará-Maranhão).São as duas únicas ferrovias que ainda fazem transportes de passageiros no Brasil em longa distância.Sendo atualmente administradas pela Vale S.A.,antiga CVRD(Companhia Vale do Rio Doce).

2.Lagoa situada na região da Pampulha em Belo Horizonte/MG.Faz parte de um conjunto arquitetônico com várias atrações turísticas e foi projetada por Oscar Niemeyer em 1943,quando Juscelino Kubitschek foi prefeito da cidade de BH.

3 Situada numa pequena ilha,a casa de Baile faz parte do conjunto arquitetônico da Pampulha projetado por Niemeyer.Foi inaugurada em 1943,e funcionou como casa de baile até 1948.

4.Jacques Le Goff. Historiador Francês ,especialista em História Medieval.

5.Fernando Sabino (1923-2004).Escritor mineiro autor de inúmeros livros,dentre eles O Grande Mentecapto,1979. Onde narrar as venturas e desventuras de Geraldo Viramundo, principal personagem do  romance .


Querido Diário


            Venho mais uma vez registrar minhas andanças pelo interior do país em suas amigáveis páginas. Dessa vez a viagem se deu de carro pelo litoral sul-fluminense, especificamente pelas maravilhosas cidades da costa verde: Frade, Mambucaba, Trindade e Paraty, situadas ao longo da BR 101, rodovia Rio-Santos.

           No dia 6 de julho de 2013, parti com destino a Vila de Frade, onde fui visitar uma grande amiga. Juntas, fomos conhecer as já mencionadas cidadezinhas acima. Primeiramente passamos na Vila de Trindade, pequeno lugarejo de Paraty, que conta com praias e paisagens naturais exuberantes onde se encontram pessoas de diversos lugares do Brasil, principalmente paulistas, devido à proximidade que este lugarejo tem de Ubatuba, ficando a uns 22 km aproximadamente deste.

         Depois de perambularmos por estas paragens, fomos visitar a 11ª FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty/RJ, que acontece todos os anos no mês de Julho. Paraty é uma cidade  bastante conhecida no mundo inteiro,não só pela festa literária,mas também pela sua importância histórica.De seu porto nos séculos dezoito eram embarcados para o porto do rio de Janeiro o ouro das Gerais que chegavam em lombo de mulas,assim como no século dezenove o açúcar produzido nos engenhos do Vale do Paraíba e norte paulista,a serem conduzidos ao Rio de Janeiro e deste ao porto de  Lisboa em Portugal.

            Nas  ruas do centro histórico,as correntes levantadas impedem a passagem de carros,mas não a de pessoas.Por elas professores,escritores,poetas,músicos e visitantes em geral,se movimentam de um canto a outro em busca dos mais variados temas literários reunidos ali de 3 a 7 de julho.Todos os anos a FLIP homenageia um importante vulto da literatura nacional.Nesta edição o homenageado foi o escritor alagoano Graciliano Ramos.Na FLIP de 2009,onde participei pela primeira vez o homenageado foi o poeta pernambucano Manuel Bandeira.Com uma bela e preservada arquitetura colonial portuguesa oitocentista, a cidade de Paraty se destaca das demais cidades da região por seus casarios, armazéns, igrejas, antigos sobrados e seu calçamento de pé-de-moleque. No fim da tarde a maré invade algumas ruas tornando a cidade ainda mais encantadora e deslumbrante.

             Outro povoado no litoral sul fluminense  que visitamos foi a Vila Histórica de Mambucaba.Uma das primeiras pessoas que conversamos foi o senhor Julio,um gaúcho que encontramos voltando da padaria,com sua inseparável cuia de chimarrão.Batemos um longo papo com ele sobre a história da cidade.Seu Julio nos disse que quando o tráfico de escravos começou a ser  proibido pelos Ingleses no século dezenove era ali em Mambucaba que os escravos contrabandeados da África aportavam para serem distribuídos às várias cidades do País.Fomos orientadas por ele a procurarmos o Paulinho,que segundo ele  era um profundo conhecedor da história local,pois nascera ali.Sendo portanto a pessoa mais apropriada para falar sobre a cidade.

             Fomos procurar o Carlinhos e o encontramos na sua venda,localizada na rua do comércio.Nas paredes do antigo casario colonial encontram-se pendurados,recortes de jornais, revistas, reportagens e fotos antigas de Mambucaba. Papéis velhos e  amarelados pelo tempo  que Carlinhos guarda com muito carinho,assim como a antiga chave enferrujada da cadeia pública,numa tentativa particular de preservar a memória da cidade e de seu pai,antigo morador da Vila. Mambucaba nos disse Carlinhos é o 4º distrito de Angra dos reis,que parece não dar a devida atenção ao lugarejo.Os turistas que nela chegam não encontram nem um espaço ou Centro Cultural, onde possam saber mais informações sobre a história dessa antiga Vila.
           Os muitos estudiosos que falaram sobre a Vila Histórica de Mambucaba que Carlinhos mostrou-nos com orgulho, não se preocuparam em doar para a cidade se quer um exemplar de sua obra. Impedindo portanto, que seus moradores possam compreender o seu passado e assim preservar a memória histórica do lugar em que vivem. Suas praias, caminhos, trilhas e  Patrimônio Histórico poderiam ser explorados turisticamente gerando renda para a população local e não apenas para o município de Angra,mas parece não ser isso que acontece ali.
             Ressentido Carlinhos confessou-nos que à época da construção da Rodovia Rio-Santos, (1972) um vereador tomou emprestado o Livro: O Barão de Mambucaba e nunca mais devolveu a seu pai.No dia seguinte voltamos a Paraty onde percorri as livrarias e o Centro Cultural  a fim de comprar um exemplar desta obra para presentear Carlinhos, mas não encontrei.

               Uma crítica consistente das pessoas que estavam ali em frente à mercearia e com as quais conversamos foi sobre o descaso do IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional quanto à preservação dos Prédios Histórico e Cultural de Mambucaba. Um antigo casarão que permanecia em pé até meados dos anos 1970, encontra-se hoje em total ruína.O mesmo fim terá a Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Mambucaba que teve suas obras paralisadas a mais de 7 anos pelo IPHAN,  e todo o conjunto arquitetônico que estão ali desde os séculos dezoito e dezenove ?Não terão as gerações posteriores o direito de conhecer a história e de ver sua antiga arquitetura preservada?Argumentavam os moradores.

           O visitante que chega à cidade pelo mar não tem mais a visão da igreja e de seu centro histórico como outrora.Estes encontram-se totalmente escondidos pelos diversos pontos comerciais irregulares e por duas enormes barracas erguidas pelo IPHAN  desde o  inicio das obras de  restauração, do telhado e do forro da igreja de N.S.do Rosário a 7 anos atrás, e que até hoje permanecem ali sem nenhuma serventia para a população.Outras construções antigas datadas da década de 1850,encontram-se em má estado de conservação,já  começando a ruí,tal como o antigo casarão que nos anos 70 ainda estava de pé e, que a partir de seu tombamento pelo IPHAN,segundo os moradores foi desmoronando aos poucos por falta de manutenção,restando hoje apenas suas ruínas.

              Os moradores locais carecem de uma explicação, quanto à paralisação das obras de restauração da Capela do Rosário. Assim como se faz imperativo prestar-se conta do dinheiro público destinado a restauração de todo o conjunto arquitetônico tombado e não apenas de sua restauração parcial. Tanto por parte do governo municipal de Angra dos Reis, na pessoa do secretário de Cultura, quanto pelo IPHAN.


Rio
Rio de Janeiro, 07 de julho de 2013.

Fotografia tiradas Na Ilha de Trindade,Paraty e Vila Histórica de Mambucaba,Julho/2013.Arquivo pessoal.


Praia de trindade/RJ.










Igreja N.S.do Rosário (Mambucaba)









Casarão na Vila Histórica de Mambucaba/Julho/2013


Portal de Entrada da Cidade de Paraty/RJ.legenda.Arquivo pessoal.




Igreja N.S.do Rosário e São Benedito






















Igreja de santa Rita

Paraty/2013.
















Paraty,antiga hospedagem dos tropeiros.